O artista e o posicionamento político nas redes

Você diria "não" para esse rapazinho só porque ele fala muito sobre política em suas letras?
Você diria “não” para esse rapazinho só porque ele fala muito sobre política?

Ninguém escapa da política. Se antes, se pensava que a prática da política estava delimitada a alguns profissionais da área, chamados de “políticos”, hoje fica mais claro que a política faz parte do dia a dia de todo cidadão – e até a opção de não se interessar por política se torna um ato político, já que aquele ser optou por ser governado. O artista, como uma boa antena que saca o que está acontecendo na sociedade do seu tempo e transforma em arte, também está inserido nesse contexto. Afinal, ele também é um cidadão e, assim como eu e você, paga boletos, vota (ou não, se for um anarquista) e tudo mais o que se faz no dia a dia. Mas e o artista como figura pública, no contato direto com seu público (especialmente nas redes sociais), deve falar de política? Como saber se seu público se interessa por assuntos mais aprofundados ou apenas quer se divertir com sua música? Em gêneros fundidos em movimentos sociais, como o punk rock e o rap, essa discussão se torna mais fácil. Mas e quando o artista não é ligado a movimentos desse tipo? O que fazer?

A resposta é quase óbvia: conteúdo. O discurso nas redes sociais pode ser facilmente distorcido de acordo com os interesses do receptor. Então, quanto mais clara e objetiva a mensagem, quando o assunto é espinhoso, melhor. Muitas vezes o artista não se contenta em se expressar apenas em sua arte, sente a vontade de extravasar algum sentimento ou opinião e isso é positivo, ajuda até no engajamento do fã em relação a sua obra.

Existem algumas armadilhas que devem ser evitadas. O posicionamento político envolve paixões, discussões aumentam a adrenalina e o artista pode se sentir tentado em se tornar monotemático e aí temos um problema. Quando o discurso se torna maior do que a obra, as chances da carreira daquele artista só funcionar em ambientes políticos é um grande risco. E aí cada um deve avaliar se vale pagar por esse preço ou não. Artistas como Chico Buarque e Lobão já provaram talento suficiente em suas trajetórias e chegaram àquela fase em que não devem mais satisfação a ninguém. Eles podem se dar ao luxo de escolher seu público pelo ramo político – Chico totalmente ligado ao PT e aos movimentos de esquerda em geral e Lobão sintonizado com as ondas mais à direita. Mas um artista mais novo, que ainda precisa mostrar seu talento para mais pessoas para viver da sua arte, precisa colocar a razão à frente das paixões políticas e medir se o risco vale a pena.

O fã também precisa ter maturidade suficiente para consumir arte de pessoas que não pensem como ele. E saber que sem política e seus movimentos sociais, não teríamos Bob Dylan (e toda a geração que protestou contra a Guerra do Vietnã com suas músicas), Geraldo Vandré (e toda a geração que protestou contra a Ditadura Civil-Militar no Brasil), U2 (que explicitou os problemas irlandeses em hits como “Sunday Bloody Sunday”), Legião Urbana (e boa parte das bandas de Brasília dos anos 1980)… sem contar os já citados rap e punk, principalmente, gêneros forjados no protesto social e que souberam usar o sistema para difundir suas ideias. Até no samba, um gênero tido como festivo, temos bons exemplos de letras engajadas nas obras de Bezerra da Silva, Jorge Aragão, Diogo Nogueira e Martinho da Vila, só para citar alguns.

Sem política, não teríamos também algumas obras primas criadas em 1968, um dos anos mais caóticos da nossa história recente, quando revoltas populares pipocaram em diversos lugares do mundo, enquanto ditaduras se fortaleciam e sufocavam movimentos sociais em outros lugares. A Orfeu Digital já produziu um podcast só com obras lançadas naquele ano.

Na Orfeu Digital, já atendemos o paulistano Yvison Pessoa, ex-Quinteto em Branco e Preto, de São Mateus, que carrega um forte conteúdo político nos seus sambas e na sua postura como cidadão e não tivemos problemas na divulgação de algumas de suas ideias nas redes sociais. A Orfeu Digital está totalmente apta para guiar ou aconselhar o posicionamento do artista no ambiente online, sendo político ou não.

Uma resposta para “O artista e o posicionamento político nas redes”

  1. Texto maravilhoso, mas esqueceu de mencionar que todas as obras criadas na quela época não foi financiado com o dinheiro de pagador de impostos como acontece nos tempos de hoje, pessoas que se dizem artistas, mas sem a lei rouanet não consegue colocar o arroz com feijão na mesa.
    Acho que deveria ser proibido o uso de dinheiro dos pagadores de impostos em qualquer tipo de evento cultural voltado para adultos.

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