Há alguns dias, um comentário no post de uma amiga no Instagram serviu para discutir sobre as diferentes formas de se falar no ambiente digital. Resumindo: diante de um dilema apresentado por ela, comentei que aquilo parecia um “dilema Tostines”.
No comecinho dos anos 1980, a marca Tostines colocou uma campanha no ar, em todas as mídias possíveis na época, com o tal “dilema Tostines”: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.
Minutos depois, uma usuária, visivelmente bem mais nova, me perguntou: “mas porque isso se chama ‘dilema Tostines?'” E aí, claro, vimos que rolou um choque geracional. Ela não era nascida quando essa campanha foi ao ar e ainda não havia se deparado com ela, mesmo nesse tipo de citação.
Claro que o exemplo não aconteceu num perfil de artista ou figura pública, mas serve para pensarmos a respeito. Por mais que um artista tenha o seu público alvo, as redes permitem que seu conteúdo chegue a pessoas que ele nunca imaginou atingir. Se o artista faz um trabalho mais voltado para um público adulto, pode estar chegando também para um público mais novo que se interessou por aquilo por N motivos… e vice-versa.
Então, cabe um cuidado nessa comunicação mais “institucional”: evitar o uso de referências excessivas para que a conversa seja a mais universal possível. Muitas referências tornam o conteúdo fechado somente àqueles que entendem a mensagem e deixam boiando quem não tem esse mesmo repertório. E atenção: isso não quer dizer que a comunicação deva ser pobre, sem referências e só com conteúdos básicos. A ideia é que a contextualização resolva quando não houver outra forma de comunicar. E a linha dessa contextualização também é tênue: se abusar desse artifício, a página do artista vira uma grande palestra. O dia a dia e a análise do público que frequenta aquele perfil é que vão dosar isso tudo.
Temos até um exemplo de iniciativa que ganhou o mundo explicando e contextualizando músicas. O site Rap Genius foi criado em 2009 por três amigos no Brooklyn, em Nova York, com o intuito de explicar as letras lotadas de referências do hip hop. Com o sucesso, o site tirou o “Rap” do nome e hoje abrange outros gêneros e virou fonte segura de pesquisa sobre o que determinados artistas quiseram dizer com suas canções – até porque, com o tempo, os próprios artistas começaram a abastecer o site de material oficial.
Então, para você não precisar de um “Genius” próprio, é bom se fazer entendido nas redes sociais.
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Listamos mais palestras e atividades da Social Media Week que vão falar sobre os rumos do jornalismo na matéria “9 soluções para que o jornalismo seja a profissão do presente – e do futuro“.
Nos vemos lá!